segunda-feira, 30 de junho de 2008

As velhas e boas cartas



O que já foi meio oficial de comunicação entre os povos por anos e anos, continua fazendo parte de minha vida como uma mania. Mas confesso que o hábito considerado ultrapassado é praticado apenas com uma amiga de infância. Com ela, sinto-me à vontade para trocar idéias com frases inteiras, pontuadas, cheias de saudosismo e mimos com a nossa língua portuguesa.
/.../Olá, caríssima!Espero encontrá-la bem. E, de antemão, peço desculpas por não ter ligado bem no dia em que você completou anos. Confesso que tive medo de encontrar outra e não aquela em quem confiei segredos e desabafos existenciais. Temi que minha amiga tivesse ficado no velho ano, com preguiça de passar para 28 de julho de 2008 e todos os outros dias que vão lhe encobrir. Temi que uma voz fria me atendesse e me fizesse cobranças pelas ausências anteriores.
Então, eis que “faço uso” da palavra escrita para lhe felicitar! E agora abro um parêntese: “Faço uso” está aqui entre aspas porque não gosto dessa expressão e uso-a ironicamente, embora digam que ela é a mais correta para o caso de “transferir a palavra” a alguém em um evento, por exemplo.
– Agora, chamamos fulano de tal para fazer uso da palavra!Que coisa horrível, não? Eu diria, quem sabe:
– Agora, chamo fulano de tal para proferir suas palavras a este público! Ou,
simplesmente: - “Passo” a palavra a fulano de tal. Argumentam que a palavra não pode ser “passada” porque é algo abstrato. E então pode ser usada? Como uma blusa, por exemplo? A discussão é das boas. Ainda não sei o que o prof. Pasquale pensa do assunto, nem consultei meu amigo Luiz Antonio Sacconi... E já me alonguei demais nisso./.../Hoje é moda fazer cafés filosóficos aqui em Bauru... E nós já o fazíamos há tempos, não é? Quanta saudade... Saudade das conversas e dos momentos em que silenciávamos por saber que não havia solução para o caso... Nós aceitávamos isso, não é? Não que fôssemos passivas, mas aceitávamos com certa resignação. E isso faz falta hoje em dia.Bom, amiga, termino essa carta com um pedido especial: “não me deixe num canto qualquer”. Ainda gosta de Chico?

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