quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Remember (texto publicado em 8/2/2008 no Palavra Impressa)



Ok. Sei que já estou alguns dias sem escrever. Meio atordoada ainda com os últimos acontecimentos! Meio zonza com as notícias da TV (ruins, infelizmente) e feliz por ainda querer escrever sobre um sentimento paradoxal e fundamental para a nossa sobrevivência: o amor Quero compartilhar com você algumas reflexões a respeito deste sentimento avassalador, que escraviza, nos prende num campo de batalha e nos põe (quase sempre) confusos, sem saber se queremos entregar os pontos ou continuar na guerra.

1. Dizer que amor de mãe é o único e verdadeiro amor é balela. Entendo que seja um sentimento diferente que torna a mãe capaz das maiores batalhas para garantir a felicidade do filho, mas dizer que é o único verdadeiro é quase negar o amor. E vamos combinar outra coisa: o conceito de verdade é totalmente subjetivo. Muitas mães têm uma postura de entrega e isso é próprio da condição maternal, afinal é uma semente dela na vida. E por que não pensar, então, que o amor, na verdade, é por ela mesma e pela ideia de ter uma continuidade da própria existência?

2. Em dias pós-modernos (rs), em que vivemos cercados por relações superficiais e emaranhadas em interesses individuais, todos parecem amar muito mais a ideia do amor, a possibilidade de ser alguém “grande”, capaz de sentimento tão universal e nobre, do que propriamente o “objeto” amado.
Isso é dito, de certa forma, de padre Vieira a Barthes e, mais recentemente, por Zigmunt Bauman em seu Amor Líquido. Dono de muitos conceitos sobre as fragilizadas relações sociais do homem de hoje, o sociólogo polonês é uma referência para quem pretende entender por que, entre mundo real e virtual, nossas relações têm tanta fluidez e ao mesmo tempo são tão descompromissadas.
“É preciso deixar claro que Bauman não se propõe a indicar ao leitor fórmulas de como obter sucesso nas conquistas amorosas, nem como mantê-las atraentes ao longo do tempo, muito menos como preservá-las dos possíveis, e às vezes inevitáveis, desgastes no decorrer da vida a dois. Não há como assegurar conforto num encontro de amor, nem garantias de invulnerabilidade diante das apostas perdidas, nunca houve. Quem vende propostas de baixo risco são comerciantes de mercadorias falsificadas”, discorre Gioconda Bordon, em ensaio sobre Bauman e sua obra.

3. Numa caracterização rasa, posso dizer apenas que amar nada tem a ver com tomar posse, prender, controlar ou sufocar. Quando amo desejo, primeiramente, que o ser amado seja genuinamente feliz. E felicidade tem a ver com liberdade de ação e expressão, com individualidade e plenitude de nossa própria essência.

Será que as pessoas estão mesmo preparadas para amar? Será que desejamos o outro mais do que o sentimento dele por nós? Por que queremos tanto nos relacionar, se nos dirigimos em várias direções em busca de um outro que sempre guarda a possibilidade de ser melhor? Mais adequado... Mais apropriado para a nossa própria felicidade... Daí cada vez maior o número de relacionamentos abertos. Ou seja: queremos o colo, o cobertor de orelha, mas nada tão profundo a ponto de ter comprometimento... Sem passar do limite que estabelece uma entrega maior.

Nenhuma dessas reflexões, no entanto, nos tira do alvo. Amamos sempre e muito. Tanto quanto podemos. Tanto quanto resistimos. E cada entrega é repleta de aprendizado e de prazer. Saímos e entramos nas relações sempre com uma ponta de esperança. Com a ideia boba de que o próximo será para sempre. Será?

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro tua filosofia.