terça-feira, 29 de junho de 2010

O velho novo

O novo atrai, não é? O sabor do novo revigora. Traz olhos vibrantes. Pele arrepiada... É estimulante, sem dúvida. Mas um medo me acometeu hoje. Percebo que tenho me viciado na ideia do “novo fantástico” e de tempos em tempos preciso jogar pela janela todas as velhas conquistas. Todas as velhas e confortáveis almofadas macias. É como se o velho sapato confortável nunca mais pudesse me satisfazer... E isso assusta. Não assusta? Essa inquietude, essa busca incansável pela novidade, me tira o chão e toda a possibilidade de construir uma vida feliz. Com esse raciocínio e com essa postura nada na minha vida chega a ser velho. Parece até uma auto-sabotagem. Quando tudo parece estável e conhecido, um bicho carpinteiro me cutuca... E meus olhos vão de 180 a 180 graus em busca do desconhecido. O tal que faz disparar a adrenalina e traz de novo a sensação de recomeço sempre agregada ao pulsar da vida. Mas, hoje, isso me parece uma ilusão. Ando pelas mesmas ruas, dobro as mesmas esquinas, diariamente, com o desejo de trilhar uma estrada jamais percorrida. Mas então não estou estacionada? O sol sob a calçada não é o mesmo, mas minha busca o é.

Estranho muito aqueles que batem no peito se dizendo livres e revolucionários, mas que semana a semana se abrigam no cômodo quarto decorado, como um gato de armazém. O que realmente faz a diferença? Desejar ser diferente da massa ou tomar simplesmente o próximo ônibus?

Toda a questão, afinal, está no desafio de fazer do dia seguinte, da velha e conhecida segunda-feira, um dia especialmente novo? Seria isso possível? Ou essa é outra ideia cômoda para nos dar a impressão de “andar para frente”? Como é possível dirigir os olhos já cansados de ver o mesmo com uma energia diferente, curiosa e cheia de boa-vontade para enxergar o outro? Talvez se nossa memória fosse mesmo reformatada... E ainda assim, em algum ponto tudo recomeçaria...

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Nane,

Me indentifico com a inquietude de seus textos. Foi por ela, ou por causa dela, que sempre joguei tudo pra cima. Um dia foi o casamento, no outro um trabalho, pela massa invejada, mas para mim se tornou uma massante e ingrata rotina e daí para frente só eu sei as emoções que vívi. Foram boas e ruins. Cada dia foi um dia, talvez de rotina de afazeres, mas nunca de emoções e sensações que lutei e luto bravamente para decifrar e definir e conseguir conviver com elas. Paga-se um preço muito alto para satisfazer esta gana de vida, de viver intensamente cada emoção, de querer conhecer, entender e se explicar em cada milimetro de sentimento e expandir nosso ser. Me pergunto sempre, para que querer saber tanto? Viver tão intensamente se os seres simples parecem ter mais tranquilidade?
Não importa as respostas (o importante são as perguntas). Enquanto questionarmos o mundo e a nós mesmos estaremos vivendo e isto é o que mais importa.
Conclui nisto tudo que tenho de assumir minhas caracteristicas de deslumbre, da busca, da coragem de arriscar, da crença em algo maior que eu e que quero alcançar, do viver perigosamente e intensamente e de sempre fazer o errado achando que desta vez está certo, de acreditar porque alguem falou. Vou me desiludir? Certamente. Vou sair do estável? Com certeza. Mas não me castrarei, porque quando me senti assim acho que foi o sentimento mais dificil de lidar.
Minha amiga o mesmo sol que bate em sua calçada alcança a minha, mas com certeza não o interpretamos do mesmo jeito todos os dias.
Não se deixe seduzir pela mesmice, pela segurança de não se magoar, explique sim a vida, como voce a vê e sente, para a criança, pro velho e até para o gatinho mais novo que no fundo voce sabe das intenções dele e esteja certa de suas intenções. Navegue entre o seguro e o incerto. Navegar é preciso, viver não é preciso... Escrever é necessário.

Estou vivendo novas velhas emoções, como quando tinha 14 anos e disse para conseguir meu primeiro emprego que sabia e conhecia as rotinas de um escritório. Logo fui flagrada na mentira e trabalhei na empresa por 12 anos onde foi minha iniciação para me profissionalizar e me conhecer como gente. Hoje abracei novo desafio, coordenadora administrativo da Farmácia Véritas, te conto as aventuras e desventuras pessoalmente. Estou feliz minha amiga e o sol para mim está da cor laranja, vibrante e nostálgico.
Beijos
Sandra