quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Flor lilás ou fios vermelhos?


É difícil ter de forma clara qual a imagem que fazem da gente. No sábado, por exemplo, fui fazer a unha e a manicure (Kiki) já disse de cara:
- Ai, ai... essa cutícula delicada vai me dar trabalho.
E eu:
- Ah, nem tão delicada... ela é fina.
- Ah, com essa sua carinha! Olha só a sua mãozinha. Parece uma boneca!
É. Eu estou acostumada com esse tipo de comentário. E pior, acho que dou razão para essas pessoas me imaginarem um bibelô. Acho que o erro foi de meus pais, que me ensinaram a sorrir para todos. Então, eu me apresento e, especialmente na dúvida sobre o que dizer, logo abro um sorriso. Pronto. Está criada a imagem de que sou uma menina meio boba (porque rio à toa) e delicadíssima (pela aparência frágil).

Não sou. Ao contrário, tenho certo humor cortante, sou intolerante e, ultimamente para não ser grossa, sou muda e desconcentrada. Odeio futebol, detesto a grande maioria das músicas cantadas em inglês e tenho alergia de pessoas que ficam narrando notícias para mim, especialmente as que querem comentar demonstrando conhecimento de causa. Tenho que confessar também que não acho quase nada engraçado, em especial as piadas. Tenho preguiça de mastigar (isso já espalhei para os amigos) e evito salões de beleza por me sentir um peixe fora d’água entre as frequentadoras.

Por fim, não sou assim um jiló. Gosto de algumas coisas. De música popular brasileira, por exemplo. Das clássicas também. Sou contemplativa. Amo observar o pôr do sol. Sou capaz de ficar horas e horas na frente do mar, com olhar perdido. Gosto de deitar na minha rede verde e de ouvir alguém ler um bom livro em voz alta e com boa entonação. Também gosto de falar, escrever e divagar sobre o comportamento humano. E tenho gostado bastante de umas certas “ideias de fronha”, mas isso não é assunto para esse meio aqui...

Mas nenhum de meus gostos (ou desgostos) são aparentes na estampa. E esse desencontro entre o que "mostro" e o que "sou" cria, de certa forma, uma crise de identidade. E o pior é que quanto mais deduzem que me descobriram mais eu me escondo. Isso não sei explicar, ao certo. E quando alguém vem cheio de si, querendo se impor para mim? Aí é que me calo mesmo - até pela infantilidade e prepotência do ato.

Fico pensando o que leva alguém a se armar para enfrentar o outro? A ter reações impulsivas e por vezes agressivas como se quisesse gritar:

- olha eu aqui. Existo e sou melhor que você!

Acho que qualquer um com mais de trinta deveria desprezar isso. É muito estranho perceber que há pessoas que se acham ameaçadas por outras que nem se dão conta da existência alheia...

Eu, por exemplo, sou um caso perdido. Ninguém nesse momento será capaz de me impressionar porque eu simplesmente tenho estado à parte do mundo à minha volta. Hoje, não sou rival nem da outra que mora em mim (e com quem eu, confesso, já briguei muito!). E não é por covardia não, viu. É pela mais pura e latente forma de coragem. Não quero enfrentamentos. Simplesmente isso. Por quê? Porque há uma vida linda lá fora! E nada me fará perder tempo com coisas alheias aos meus desejos mais intrínsecos.

Quero apenas ser eu. Cada vez mais eu. Pura e simplesmente eu. Passando despercebida, às vezes, ou admirada simplesmente pelo o que sou e posso dar. Mesmo que, para isso, eu tenha que aturar eternamente a imagem da menina doce e quietinha, pintada pela Kiki.

Deu para entender? Coisa de gente (madura)!

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