segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Hoje fui chamada a escrever. Mas não tenho certeza. Não tenho certeza se hoje minha não escrita é um ato de covardia ou de coragem. Não sei se o que não quero é expressar minhas certezas ou se, ao contrário, é demonstrar minhas dúvidas.

Talvez só não queira dividir com você a decepção de não encontrar mais as pessoas inteiras que acreditava habitar as pessoas de alguns amigos.
Talvez só ache que você não merece se desiludir assim, por aqui. Você mesmo terá de viver isso para saber do que estou falando. E viverá tão a seu modo, que talvez jamais entenda. Por isso mesmo é que me calei. Falar para quê?

O silêncio das palavras toca um agudo em mim. Eu quero dizer, mas não estou mesmo certa disso. Então vou dizendo assim, em conta-gotas.
Talvez seja só covardia. Mas, às vezes penso que é coragem. Coragem de assumir um silêncio meu. De dizer: veja, eu não tenho certeza. Por isso nem vou dizer nada. Afinal, todas as vezes que pensei ter certeza, alguém me apontou outro caminho. Alguém me surpreendeu. E não reclamo disso não, viu. Adoro ser surpreendida. É disso que tenho vivido.

Volto mais tarde...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008



Soa o badalo. É a vida. É ela avisando que quer pulsar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Rever amigos

Hoje revi um amigo de doces olhos negros. Foi bom. É bom rever pessoas que superam distâncias e diferenças e se mantêm, firmes, aqui, do lado de dentro da gente! Ótima semana!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Noites claras
Manhãs sombrias
Tardes amarelecidas...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ao léu

Volto, depois de alguns meses, à prática de compartilhar com você situações cotidianas.
De certa forma, no tempo em que não postei textos no blog foi como se estivesse à toa, sem ter feito nada. Claro que isso não é verdade. Mas quando não registramos, os dias quase passam em branco. Tenho um amigo que marca tudo na agenda. Cada passo. Cada ação no trabalho. Eu brinco com ele, dizendo que ou eu trabalho ou faço relatórios. Mas acho que ele está certo. Errada estou eu, que faço, faço e tudo passa despercebido. Ainda não cheguei a uma conclusão final. Mas me penitencio por isso e por tantas outras ausências. Minha desorganização é perigosa!
Hoje também posto alguns textos antigos, a pedidos de amigos.Espero poder contar com sua visita. A promessa é a de sempre, mas agora para valer: passarei por aqui todos os dias! Até!

Com que roupa ela virá?


Já tinha me esquecido do quanto o processo é desencadeado rápida e completamente. São sensações químicas logo reconhecidas pela mente e transformadas em sentimento incômodo. Uma crise de bobeira nos invade. Cometemos enganos. Ficamos destemperados. Quase nada nos preenche. O pensamento central é nítido: vontade de repetir o processo. Um cheiro profundo. Arrepios cintilantes. E um quase desmaio. Olhos cerrados e já era. Agora é a força do ímã. A doçura do toque. Um gosto quente de amor. Mais um estado de paixão. Mais do mesmo. Depois, ligações durante a madrugada. Horas de fuga para encontros inebriados... Convites fortuitos. Mensagens etílicas. E, finalmente, a dúvida fatal: quando ela virá? Com que roupa ela virá? Em que forma ela virá? A morte...

Sobre ser e estar


Indagam se estamos bem, como se fosse naturalmente fácil responder de prontidão. As vezes até é. Mas em geral precisamos olhar no ‘fundo do centro’ de nossa alma para entender o que está se passando naquele exato momento. As condições que envolvem humor e estado d’alma são extremamente subjetivas e variáveis. Da mesma maneira se comporta a moda. Basta um acessório a mais ou fora do lugar para a beleza se tornar brega. Basta uma ousadia acertada para que o brega seja chique. Não há regras muito definidas. Vale o bom senso. Por isso, ao ser questionada se fulano está bonito e elegante é difícil responder de pronto: está chiquérrimo ou está brega! Antes, é preciso analisar o visual. Entender o contexto... Observar os acessórios e, às vezes, até compreender a razão antropológica de fulano se vestir daquele modo e não de outro. Ainda mais considerando o turbilhão que se tornou o Brasil... É quase impossível categorizar quem foge dos padrões pré-estabelecidos... Hoje, a moda permite quase tudo, desde que a roupa fale de você, converse com você e te receba bem... Ou seja, se combinar com o seu jeito de ser e ver o mundo está tudo certo. Todas as cores estão liberadas, a mistura delas também. Listrado e bolinha pode. Xadrez e listrado também. Baixinhas podem usar longo, sim. Só não vale deixar a roupa aparecer mais do que você e sua personalidade. É proibido ficar calado dentro de uma roupa linda! É preciso usá-la como mais um modo de expressão. E se as roupas forem encaradas assim, com desprendimento, bom-humor e bom-senso, será cada vez mais difícil dizer o que, afinal, é brega. A não ser nos casos de fórceps!

Bálsamo de copaíba


Bastam alguns minutos de desencontro, algumas frases mal colocadas e palavras avessas para que o velho e conhecido abrigo se transforme num constrangedor quarto de aluguel. Frio, distante, previsível.Por que isso ocorre? Talvez seja simplesmente porque alimentamos a tal expectativa. Se, de verdade, não esperássemos nada tudo seria perfeito (ou quase). Mas, como nunca aprendemos a viver, eis que esperamos. A palavra certa. A frase que contagie nosso coração. A mão amiga. O olhar que invade, ruboriza e desconcerta. E o que recebemos? Mostras viciantes de alguém comum. Imagem cruel daquele que jamais nos acordaria no meio da noite para ler Alan Pauls. Alguém que vê beleza onde enxergamos apenas cordiais olhos castanhos.Solução? 1. Comer algodão doce numa tarde chuvosa, sentada num banquinho diante de pétalas rosadas que perfumam o jardim. E esperar que alguém nos chame no portão. 2. Ouvir, observar e ter a certeza de que aquele ser estranho e pouco articulado nos ama e isso deveria nos bastar.3. Entender que somos mesmo únicos e ninguém, ninguém mesmo, vai preencher totalmente nossas lacunas existenciais! Mas é possível viver momentos bárbaros ao lado dos seres comuns (como nós) que se aproximam por despretensiosa afinidade e são capazes de nos proporcionar prazeroso almoço embaixo de uma copaíba. E, às vezes, isso pode ser sinal de amor.

Leve?


Para variar, pensei em escrever algo leve. Algo que pudesse melhorar o seu humor hoje. Uma crônica do cotidiano... O problema é que meu cotidiano não tem sido tão leve assim. E para dizer a verdade já estou acostumada com essa vida hard! Mas você não tem nada a ver com isso, não é?Então, vamos, sim, falar de algo leve. Que tal as borboletas que têm enfeitado a blusa de muita moçoila por aí? Estampas enormes e psicodélicas invadem o guarda-roupa feminino e a maioria das mulheres cede ao modismo. Que horror! E onde é que fica a individualidade? A grande sacada das roupas não é justamente a possibilidade de falar um pouco sobre nós? Expressar nossas crenças, nossos conceitos, nosso estado de humor? Tudo bem que a borboleta simboliza transformação e, dizem, sorte. Mas precisa sair por aí borboleteando o mesmo modelito?Leveza IITem gente que diz fugir da dureza do cotidiano com um bom desenho animado. Ou uma comédia romântica. Ok. Sou favorável. Mas “pelamordedeus” precisa contar detalhes do filminho para o colega e martelar a velha frase “morri de rir”? Não adianta. Por mais que você queira dividir esse sentimento, ninguém vai “morrer de rir” só porque você resolveu reproduzir a historinha. Faz o seguinte: pega todo o sentimento bom que o desenho ou filme lhe transmitiu e guarda. Isso é seu! O eu profundoExistem milhões de novos autores com excelentes publicações. Das crônicas aos romances de época. E por incrível que pareça ainda tem uns e outros que ao serem indagados sobre o livro de cabeceira respondem em alto e bom tom: Fernando Pessoa! Incrível. Se todos que dizem conhecer o poeta português soubessem ao menos o nome de um de seus heterônimos, algo além da popular frase “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”!, acredite, viver seria um pouco melhor. Para quem gosta de fazer essas gracinhas (citar quem não conhece), sugiro, ao menos, a leitura de O eu profundo e os outros eus (tem até no www.dominiopublico.gov.br). SonharConfesso que tenho me apegado aos sonhos. Não aos sonhos que me tomam acordada, em plena luz do dia. Mas aos que nos últimos dias têm me levado através, após longas noites de insônia. Ontem, por exemplo, sonhei com árvores frondosas, de folhagens perfumadas. Elas enfeitavam o quintal de minha casa. Era uma pequena chácara, na verdade. E alguns troncos compunham a decoração interna da casa – que não era amarela, mas branca. Confesso que tive medo de encontrar esse lugar de verdade, durante minhas andanças atrás de uma casa legal (para, de novo, me mudar). Um medo besta - desses que passam por minha cabeça com certa freqüência. Outro medo que me acometeu hoje, após uma sessãozinha saudosista de fotos, foi de sentir o que já senti pela mesma pessoa. Entende? Bom, motivada significativamente pela minha memória bondosa, que só se recorda do lado positivo das pessoas, tive um minuto de cegueira e pensei em quem já não merece meu pensar. Mas passou. Foi um minuto de bobeira. E os medos são mesmo assim, não é? Passageiros. Às vezes motivadores, é verdade. Mas particularmente costumo ter medo apenas daquilo que sei que irá me prejudicar, de um jeito ou de outro.

Dia conjugado


Olho ao meu redor. Paro. Ouço. Praguejo. O entusiasmo chega rápido, com o resultado de meu trabalho. Mas o desânimo também bate quando sou informado de que um túmulo custa em torno de R$18 mil. Penso que esse poderia ser o dinheiro de entrada para um terreninho onde vou construir a casa amarela. E quem não tem dinheiro? Joga-se em algum buraco? Busca-se recursos junto à prefeitura? E a tal dignidade na hora da morte? Entristeço. Uma pontinha de alegria vem de novo, com boas notícias de um velho amigo. Enfim, a vida continua. De novo, sinto que o mundo é injusto quando descubro que uma meninha de apenas 6 anos foi acometida por uma doença que a deixou careca em menos de 20 dias: alopécia areata. Pesquiso.”A alopécia areata afeta aproximadamente 4.6 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Ela caracteriza-se pela perda incompleta de cabelo do couro cabeludo que progride na sua totalidade (alopecia total) e eventualmente acomete todo o corpo (alopécia universal). Apesar da elevada incidência desta condição, desconhece-se amplamente sua base genética. No momento acredita-se em uma combinação de fatores genéticos e ambientais que resultem no fenótipo final”.Em Bauru, a família dessa garotinha ainda procura um caminho para iniciar o tratamento. O dermatologista indica um imunologista ou geneticista... E a família se preocupa com o estado emocional da garotinha. Nesta idade (e em tantas outras) o cabelo é sinal de beleza, de graça, de feminilidade... Penso que deve haver solução. Mas me comovo com essa pequena tragédia. Como será o nome dela? Essa menina terá de reagir... Vai desenvolver outros parâmetros de beleza. Vai encarar o preconceito alheio, mas, enfim, será uma pessoa melhor justamente por não viver nas amarras desta estética determinada.Volto a atenção para o meu dia, de novo. A tarde está caindo e a conjugação está longe de terminar.

"Estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já. /.../Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes, em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos – só me comprometo com a vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim." (Clarice Lispector, Água Viva)

Soltas e perfumadas



Para quem se propõe trazer idéias malucas, tenho sido um tanto melancólica, admito. Mas tenho lutado contra isso. E buscado, cada vez mais, as tão desejadas idéias malucas. Mas é que elas são tão velozes e tão desajustadas... que acabam passando direto, sem tempo para a impressão!Hoje, porém, uma delas ficou impregnada em minhas mãos. E agorinha mesmo estava aqui, olhando para o centro da palma e tentando decifrá-la. Se eu não me equivoquei na leitura, era cheiro de chá de frutas. Imediatamente me lembrei das palavras doces ou das doces palavras impressas – forma com que uma gentil leitora se referiu a nós – e pensei: e se os cheiros se convertessem em palavras assim que fossem capturados por nosso olfato? E elas (as palavras) saíssem pulando de nossa narina, perfumadas e saborosas? Imagine, por exemplo, o cheiro de pão fresquinho? Da minha narina, sairiam flutuando com graça os vocábulos saudade, vó, Maria, infância, sobradinho, balão, Priscila, Ricardo e André... Alípio, sol, piano... Cada um com seu cheiro característico. E num processo muito rápido, o cheiro exalado por cada palavrinha de referência à primeira faria uma multiplicação de outros vocábulos... até encobrir o céu com um verdadeiro léxico!


Quando penso que uma palavra
Pode mudar tudo
Não fico mudo
Mudo
Quando penso que um passo
Descobre o mundo
Não paro passo
Passo
E assim que passo e mudo
Um novo mundo nasce
Na palavra que penso

(Alzira Espíndola e Alice Ruiz)

Mulher faz marido refém de seu TOC



Para muitos, ela é apenas a repórter da rua, no melhor estilo das personagens de “O veneno da madrugada”. Mas dona Ainota tem segredos que, pouco a pouco, são revelados. Sabe-se, por exemplo, que ela e seu marido dividem a sala com baratas e ratazanas. Por conta disso, seu Teobaldo esteve doente e foi mantido escondido em casa. Dizem que ela não permite que ninguém entre lá. Nem mesmo o médico. Podem descobrir seu tesouro. “Foram anos para acumular tanta riqueza. Não posso deixar que levem tudo agora”. A Vigilância Sanitária já esteve em sua casa algumas vezes. “Mas só entram aqui com mandato do juiz”. Uma filha separada e um neto adolescente vivem no mesmo ambiente de risco. E são submetidos às regras da casa: não receber ninguém e sair o menos possível para não comentar sobre os hábitos de Ainota. Dizem que em razão da miséria vivenciada na infância, Ainota desenvolveu um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) por acumular objetos. Em seu caso, lixo. Latas, garrafas, papelão e embalagens plásticas. Ela alega que a prática é seu meio de vida. Mas a verdade é que ela vende muito pouco do tanto que acumula. Não consegue se livrar dos objetos. Para se sentir melhor, precisa manter a casa abarrotada de lixo. O problema é que o material reciclável e reaproveitável mantido dentro de sua casa já tomou conta de toda a estrutura. Tampou até a fachada. O cheiro já incomoda a vizinhança.Uma denúncia de um familiar relata que por conta de tanta tralha, o casal não ocupa mais o banheiro. O banho é tomado no fundo do quintal, de canequinha.Agora, a equipe de Saúde Mental do município entrará em ação. O caso ocorre num conhecido bairro da cidade do sanduíche. A mulher tem pouco mais de 60 anos e uma memória de causar inveja.

Elas lavam a alma



Implacável, o tempo modifica até nossas lágrimas. As minhas, por exemplo, já caíram por um simples e artesanal par de tamancos, quando tinha ainda uns sete anos. Rolaram também por amores adolescentes. E, bem antes, por leite, papinha e colo. Naquela época, elas eram bem mais doces e escorriam leves, arteiras. Com o tempo, se tornaram mais raras e definitivas. Já não rolam muitas vezes pela mesma causa. Quando desabam é para valer. E se fazem valer.Com elas, vão-se os argumentos, as desculpas vis, os perdões vacilantes. Agora, com exceção de um ou outro drama da sétima arte ou de algumas tragédias sociais, as lágrimas só vêm para lavar a alma e recuperar o sorriso, deixando todo o resto no lugar merecido: o passado!Ótimo dia! E obrigada pela visita.