segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bálsamo de copaíba


Bastam alguns minutos de desencontro, algumas frases mal colocadas e palavras avessas para que o velho e conhecido abrigo se transforme num constrangedor quarto de aluguel. Frio, distante, previsível.Por que isso ocorre? Talvez seja simplesmente porque alimentamos a tal expectativa. Se, de verdade, não esperássemos nada tudo seria perfeito (ou quase). Mas, como nunca aprendemos a viver, eis que esperamos. A palavra certa. A frase que contagie nosso coração. A mão amiga. O olhar que invade, ruboriza e desconcerta. E o que recebemos? Mostras viciantes de alguém comum. Imagem cruel daquele que jamais nos acordaria no meio da noite para ler Alan Pauls. Alguém que vê beleza onde enxergamos apenas cordiais olhos castanhos.Solução? 1. Comer algodão doce numa tarde chuvosa, sentada num banquinho diante de pétalas rosadas que perfumam o jardim. E esperar que alguém nos chame no portão. 2. Ouvir, observar e ter a certeza de que aquele ser estranho e pouco articulado nos ama e isso deveria nos bastar.3. Entender que somos mesmo únicos e ninguém, ninguém mesmo, vai preencher totalmente nossas lacunas existenciais! Mas é possível viver momentos bárbaros ao lado dos seres comuns (como nós) que se aproximam por despretensiosa afinidade e são capazes de nos proporcionar prazeroso almoço embaixo de uma copaíba. E, às vezes, isso pode ser sinal de amor.

Nenhum comentário: