terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A menina de verde, a pretinha e os cílios postiços

É estranho, mas devo admitir que sempre tive uma queda pelo lúdico, pela fantasia, pela ilusão... Gosto sempre mais da ideia da coisa do que da coisa em si. Explico: gosto mais da personagem do que da pessoa de carne e osso. Gosto mais da ideia do amor do que do amor personificado com todas as suas intempestivas exigências. Provavelmente é por isso que a menina de verde, a cachorra de apelido pretinha e aqueles lindos cílios postiços moram ainda no meu imaginário... Porque eles não são muito reais. Só um pouco.
Ela até existe. Mas a ideia de vê-la sempre de verde, caminhando por aquelas ruelas charmosas, atendendo aos clientes no balcão daquela pizzaria de ilha é bem mais fantasiosa do que real. Ela é uma caiçara inexperiente. Mas naquele momento-instante é a menina dos olhos dos garotões que passam pela praia. Ela é a garota que eles vão encontrar lá todas as vezes que decidirem acampar naquele paraíso. Ela é a menina que não sai da ilha. A menina que realizou o sonho de muitos turistas: ela mora lá. E, para incrementar a personagem, é tímida de ar misterioso. Basta se aventurar a conversar com ela, no entanto, para notar que não há mistério ali. É uma jovem de pouca estrada, que trabalha para ajudar os pais a sobreviverem num local que depende do turismo e, especialmente, da alta temporada. É tudo isso e só. 
A pretinha é outra. Linda, charmosa e querida porque está apenas na praia, passeando... Ah, se ela estivesse nas ruas da esquizofrenia urbana, dependente da sensibilidade alheia, na invisibilidade social... Talvez estivesse num canto coberta de hospedeiros ou quem sabe fizesse parte das estatísticas dos cães recolhidos por ONGs... Em qualquer dessas situações, adeus encanto. Mas ali não é assim. Naquela ilha, ela demonstra seu talento ao nadar. Vive rodeada de amigos e vai longe em busca dos gravetos jogados pelos bonitões com sede de diversão... Ali, ela é uma encantadora cadelinha - e ponto.
Bem, chegou a hora mais fatal. Aqueles cílios são capazes de hipnotizar sonhadoras à beira do abismo. Mas, atenção, são postiços. Poderiam estar em qualquer olhar. Talvez nem existam daquela forma. Foram vistos com tal beleza por frestas de janelas d'alma. Foram ampliados pelo desejo de que existissem... Você entende? 
........................................................
😎🍃

Nenhum comentário: